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Final de temporada

 

 

Se há portugueses que começam a sentir uma certa fadiga, saturados de verem governantes enredados em contorcionismos perigosos, outros há que se divertem com o espetáculo, ao ponto de se lhe notar algum prazer. Falo de certos jornalistas e comentadores que, por dever profissional, divulgam manchetes e notícias relativas a casos mediáticos a envolverem figuras públicas, mas que, por vezes, mais parecem cospe-fogo de um circo no intuito de incendiarem a opinião pública. 

Mas também há aqueles que se interrogam sobre como é possível haver, ainda, políticos a correr o risco de levarem para a governação teias de interesses tecidas na véspera de assumirem os cargos. Então, quando se trata do Primeiro-ministro de um Governo, é que a orquestra circense desafina. 

Parafraseando Gedeão, será que eles não sabem que não é com sonhos de tal quilate, a cheirar a vantagem, que conseguem comandar a vida do país? Ou julgam ser com a escandaleira de negociatas e favorecimentos financeiros a lóbis das vidas deixadas lá fora que os opositores sossegam? Pelos vistos não é com tais situações que podem cumprir aquilo que fora prometido ao povo, de que iriam resolver os problemas que o aflige. 

Veja-se esta espécie de cerco montado pela oposição à volta da governação da Aliança Democrática, a quem havia sido dado o privilégio de governar o país. O seu líder acaba por deixar para trás um rasto de demissões abruptas que lhe provocaram alguns amargos de boca. Amargor que se acentuou não só devido a ter-se metido em piruetas de faturação, como por negar ter-se aproveitado da bilheteira e se recusar dizer os nomes de quem a abonou os ingressos. 

Com efeito, ao longo destes 50 anos de democracia, 80% dos eleitores lusos têm apostado nos dois maiores partidos políticos, PSD e PS, para cuidarem da “pátria lusitana”. E o que temos visto? Uma espécie de manipuladores, pusilânimes para o interesse Nacional e destemidos para o rapace. A tentarem subir ao trampolim da ganância, a fim de tratarem da vidinha pessoal e dos seus – ainda que sujeitos a caírem com estrondo –, em vez de procurarem forrar a economia e o tesouro da Nação. 

As cenas têm-se sucedido com certos eleitos, armados em mágicos, a fazerem sair da cartola casas e casarões. Um truque assimilado, supostamente, em tempo de jotas partidárias onde parece ignorar-se o velho ditado: “o diabo cobre com a cabeça e descobre com o rabo”. Como se não houvesse, hoje, técnicas sofisticadas de investigação, deteção e cruzamento informático de dados, que permitem dizer o que cada um tem e aonde. 

Contudo, nada parece suster estes imparáveis cavaleiros montados no poder, já que podem contar que terão o beneplácito e a inércia da Justiça portuguesa, sejam quais forem as infrações cometidas. A qual, facilitando o recurso, lá vai deixando de os penalizar. Ou não fosse a sua maioria jurista, capaz de saber como manobrar as rédeas da lei.

Entretanto, o país lá vai assistindo às acrobacias levadas a cabo por uma trupe de novos agentes imobiliários que não só destratam a política e a democracia, como as fragilizam. Enquanto isso, o povo espera ver surgir, numa manhã de nevoeiro, El-rei D. Sebastião, a fim de que o salve dos ‘pelotiqueiros’. 

O que se verdade fosse, mal o monarca topasse as lodosas palhaçadas que pairam na gestão do reino, logo se interrogaria: “p’ra que me eclipsei eu por estes tipos? É que se fossem humoristas a sério – tipo Zelenskii – focados na defesa e no bem-estar de quem vive e trabalha em Portugal, teria valido a pena ter morrido!”.

De facto, acabamos de assistir na Assembleia da República ao fim de temporada de um autêntico ‘circo de feras’, a ver qual delas ferrava mais nas canelas do avençado da Spinumviva, Solverde & Cª., Cujo resultado já se adivinha: nem o ilusionista revelou o truque, o engole-espadas se engasgou, o trapezista se estatelou, nem o leão engoliu o domador. Pelo que só resta ao país esperar por eleições e novo elenco. 



 

Narciso Mendes

Narciso Mendes

17 março 2025